5.3.05

Sestine - "A Idade da Seresta"

Eu tenho uma teoria boba sobre a composição de canções tristes. Quando ouço artistas como Ryan Adams, Aimee Mann, Mojave 3, Alfie, Josh Rouse (principalmente estes que fazem folk-rock ou alternative-country), cantarem sobre a vida, solidão e amores perdidos embalados por violões e belas melodias, me sinto como se estivesse no meio do deserto americano, à noite, olhando a vasta paisagem, e sempre penso que os autores estiveram em lugares assim para compor suas canções.
Depois de ouvir as quatro faixas do EP “A Idade da Seresta”, da banda brasiliense Sestine, reforcei minha teoria. Se você pensar bem, Brasília também está localizada em uma região de vastas paisagens... Tá bom, eu sei, minha teoria não tem muito sentido. Afinal, com um compositor inspirado como Márcio Porto (que também é vocalista da banda), só é necessário ter talento para que se componha baladas com letras e melodias românticas, tristes e bonitas. Claro que ajuda na sonoridade se os outros componentes da banda também forem talentosos, principalmente com um guitarrista como Thiago Soares, que preenche as canções com acordes dilacerantes, e um baterista eficiente como Marcelo Freitas. Essa é a uma banda pra se prestar atenção.
E não é difícil de ficar atento enquanto ouvimos uma faixa como “Admirável mundo novo”, a primeira do disco. Se você me achou exagerado quando falei em “acordes dilacerantes”, espere até ouvir a guitarra steel dessa música. O vocal anasalado de Márcio Porto lembra de Bob Dylan a Billy Corgan, e deixa livre o caminho para que se ouça frases como “e nos meus bolsos eu levo os laços pra amarrar no teu coração” (eu adorei isso aí!). O nível das composições continua alto nas faixas seguintes: “Um epílogo” é sobre um amor perdido e sobre não olhar pra trás. Se esta é uma canção cheia de melancolia, a seguinte, “Serenata de uma nota triste” (com ótima guitarra), exala raiva por alguém que nunca olha pra você, e quem já se sentiu assim sabe como é. Da mesma forma, aqueles que tem um amor completamente correspondido se encantarão com a beleza da letra de “Chris Couto”, a quarta faixa, onde versos como “Eu nunca soube ler as entrelinhas onde os teus versos são escritos/ Mas eu decorei os acordes entre as pausas dos teus suspiros” são emoldurados por violões, acompanhados em crescendo pela bateria e guitarra.
De produção impecável, as quatro faixas do EP mostram uma banda promissora, que já prepara um novo álbum e tem disponibilizado em seu site versões acústicas de suas novas canções. Pela qualidade e beleza dessas faixas, fica claro que as “vastas paisagens” tem surtido o efeito esperado.
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Site do EP “A idade da Seresta” (com MP3, letras e release)
Site da banda (com versões acústicas de novas músicas)

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